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evig: (ensaio)
 

Rubem Fonseca nasceu em 1925 em Juiz de Fora, mas viveu a maior parte de sua vida no Rio de Janeiro. Publicou seu primeiro livro em 1963, uma coletânea de contos chamada Os prisioneiros e desde então vem publicando contos e romances.

Sua obra tematiza a violência por meio de descrições gráficas, cruas e impactantes; Alfredo Bosi chama esse tipo de literatura de “brutalista” e Antônio Cândido de “realismo feroz”. Por tratar de crimes e ter como protagonistas personagens da esfera marginal da sociedade (miseráveis, prostitutas, criminosos, corruptos), suas tramas podem ser consideradas noir ou policiais. Embora a história noir e a policial tenham muitos pontos de confluência, costuma-se distingui-las: a hard-boiled que “retrata a população das metrópoles, seus gângsteres e suas mulheres sedutoras, sua polícia e seus políticos corruptos” (JEHAD), e em sua trama ainda há um crime a ser desvendado; enquanto no noir “o protagonista geralmente não é um detetive; ao contrário, é quase sempre uma vítima, um suspeito ou um criminoso.” (JEHAD). Rubem Fonseca segue mais a tradição americana de histórias hard-boiled, mas acaba articulando essas duas vertentes em sua obra.

evig: (ensaio)

“A vida nos escapa; e talvez, sem vida, nada mais valha a pena.”

Virginia Woolf


O que é a vida? A depender do interlocutor da pergunta, recebem-se respostas diversas, desde respostas vindas das inúmeras áreas do conhecimento, até opiniões subjetivas salpicadas de lugar comum. Para a classe artística, “o que é a vida” tem um sentido urgente. A busca pela vida, não é apenas por seu significado, seus grandes temas, e talvez, sua hipotética universalidade. Um artista busca a vida em sua forma, em seus detalhes, em sua especificidade. O início do século XX trouxe uma promessa de vida arruinada pela Grande Guerra. As vanguardas tiveram que ser repensadas depois dos horrores das trincheiras. Formas de comunicação em massa e o surgimento da indústria do entretenimento mudaram a relação das pessoas com o tempo, com a experiência, com a vida. Os escritores que pensavam seriamente a literatura se perguntavam como narrar a vida, essa vida dos anos de 1910, 1920 - loucos, contraditórios e intensos. 

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evig: (ensaio)
 

Trabalhar com a obra de Gregório de Matos nos faz esbarrar a todo momento com a problemática da autoria e a tradição literária. De fato, não houve registros manuscritos sobreviventes de seus poemas e o que temos são códices reunidos sob seu nome numa duvidosa seleção. A tradição literária tentou separar o que seria de fato de autoria do poeta e o que seria de seus contemporâneos, associados à sua obra por diversos motivos. O que críticos como João Adolfo Hansen apontam é que, sendo o material vasto em quantidade e em diversidade temática e formal, é uma tarefa que está fadada ao fracasso tentar separar o que seria de autoria de Gregório de Matos, já que não existe um texto parâmetro e o critério de qualidade é por demais subjetivo. 


O que se sabe da pessoa histórica de Gregório de Matos já corrobora para que a obra de sua suposta autoria fosse diversificada. Feitos seus estudos em Coimbra, onde o poeta tomou conhecimento da poesia europeia do período, ao voltar para o Brasil viajou pelo recôncavo baiano e assimilou em seus poemas a oralidade, os temas e as formas populares dos jograis. Como se vê nos códices que reúnem seus poemas, há de sonetos à glosas, da poesia lírica à pornográfica, temas religiosos e maledicência a todos os estratos sociais, inclusive o clero. Além disso, era comum o poeta do período utilizar versos ou até mesmo estrofes de outro poeta, indicando filiação e seu bom gosto. Não há o conceito de plágio. E ainda deve se lembrar que essa poesia é oral e, portanto, “(...) eram, muitas vezes, transcritos em folhas avulsas; outras, memorizados, sendo copiados em novas folhas ou reproduzidos na oralidade, produzindo-se variantes transcritas, por sua vez, em outras folhas avulsas ou novamente reproduzidas por novos agentes na oralidade.”  (HANSEN p. 40)

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evig: (diário)
 A muito tempo atrás, eu fazia resuminhos baseados em scrapbook das mídias e produtos culturais que eu consumia ao longo do ano. Isso deixou de fazer sentido pra mim, talvez pelo mesmo motivo que blogar deixou de fazer certo sentido. Desde 2018 eu tenho tentado - sem sucesso - manter uma espécie de diário histórico, nem preciso dizer os motivos. Eis que 2020 superou os anos de ansiedade e angústia e todo mundo foi afetado em todas as áreas da vida. Muita gente aproveitou para ler mais, fazer cursos, ver mais filmes, maratonar séries, etc. na prática, poucos conseguiram "aproveitar" esse tempo que parecia abundante e se mostrou tão ou mais escasso que nos dias "normais". O que mais saltou aos olhos meus e dos meus colegas de faculdade foi a falta de foco para leitura, o cansaço com a internet e com as aulas online. Não vou nem falar dos inúmeros outros problemas (dinheiro, rotina, família). 

Não descobrimos ainda os motivos dessa falta de foco para a leitura. Meus professores não conseguiam mais manter suas leituras como antes. Cansaço de ambas as partes. 

Como todo mundo, no início eu me inscrevi em dezenas de cursos online, planejei estudar isso e aquilo e no fim, mal acompanhei as obrigações da faculdade... Até ajudei minha mãe nos cursos que ela se inscreveu - em especial um de fotografia. Mas esse post não é para abrigar reclamações genéricas. É só mais um dos milhares de registros inúteis sobre os produtos culturais que consumi com alguns comentários.

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evig: (escrita)
Sônia chegou e me abraçou forte, tão forte que quando me separei, não me distanciei. Acho que foi ali que invadi o espaço dela. Talvez ali eu tenha dado a entender que a proximidade física era um convite ou uma autorização. Nos conhecíamos a pouco tempo, e ela tinha me convidado para um café para podermos conversar, mas isso tinha sido antes das férias, achei que a conversa seria sobre minha pesquisa. No dia anterior, ela tinha me chamado para assistir uma aula na Filosofia e depois estender até a aula que ela daria sobre História da Arte. Aceitei animada, com exclamações e emojis.

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