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19 February 2018

evig: (dark)
O clipe começa com a mc Professorinha dizendo de onde vem enquanto anda pelos corredores da escola: “FFLCH, Cursinho da ETEC São Roque, EE prof Altina Júlia de Oliveira, EMEF prof Manuel Martins Villaça, EMEI Paulo Freire”. O rap vai enumerando as turmas de alunos e ela manda um salve para os estagiários, os funcionários e a associação de pais. Na parte mais polêmica, mc Professorinha fala do diminutivo de seu nome e de homofobia: “me chama ‘fessorinha, mas nas costas, sapatona. Causo 34, sou sapatinha, Mona.” E chama seu companheiro, o poeta Ez, que rima tatuagens, pronomes corretos e letras políticas de uma banda chamada Manic Streeth Preacher. No clipe, Ez escreve no quadro branco. A música segue e depois da mc alfinetar sobre a nova reforma educacional, ela chama o refrão da icônica música da banda Pink Floyd, Another Brick in the Wall, chamando seus alunos num coro. Ao final, Professorinha confessa que tenta não ser “outro tijolo no muro” e faz o que pode. O clipe termina com as crianças correndo pelo pátio, a mc seu parceiro e outros educadores posando com seus diplomas, mostrando a importância dos estudos dos dois lados, do aluno e do professor, além do respeito à minorias e acessibilidade da educação à todos, já que o vídeo está disponível no YouTube com descrição visual e a letra da música em libras.

Nota: 8
evig: (02 - relógio)
Lista de músicas para quem não me conhece (2018)

Like Horses - Syd Matters
Give out - Sharon van Etten
Sally Song - Fiona Apple
Shame - PJ Harvey
Gruvene på 16 - Kaisers Orchestra
San Pedro - Mogwai
M - Vitor Brauer
Death is a Desease - Clint Mansell
The Devil - Anna Calvi
Pale on Pale - Chelsea Wolfe
Homem - Lupe de Lupe
Holocaust en 3 temps - Eths
Mr. Writer - Stereophonics
Rest in the bad - Laura Marling
Sorrow - Yuki Kajiura
evig: (05 - a cup of tea)
O sr. Machado de Assis andava pensando muito em uma cena onde um rato era cruelmente morto por sadismo. Escrevera, anos antes, um conto cuja fábula consistia em dois cientistas que dissecavam ratos vivos para fins de experiência; uma sátira. Agora, se via voltado aos ratos novamente, mas queria trabalhar outro aspecto; suspeitava que o conto que estava para escrever teria um tom mais sério, com personagens mais próximos e um olhar mais íntimo diante da crueldade. Pegou tinta, caneta e papel e escreveu:
“Garcia viu Fortunato sentado à mesa, sobre a qual pusera um prato com espírito de vinho. O líquido flamejava. Entre o polegar e o índice da mão esquerda segurava um barbante, de cuja ponta pendia o rato atado pela cauda. Na direita tinha uma tesoura. No momento em que Garcia entrou no gabinete, Fortunato cortava ao rato uma das patas; em seguida desceu o infeliz até a chama, rápido, para não matá-lo, e dispôs-se a fazer o mesmo à terceira, pois já lhe havia cortado a primeira. Garcia estacou horrorizado.”

Parou. Fortunato certamente é um homem sádico, mas perfeitamente inserido na sociedade; sua crueldade passa despercebida. Para isso ele deve procurar exercer seu prazer silenciosamente, no cotidiano de seu ofício, pensou.

Já Garcia seria que tipo de homem? Quais suas paixões? Seria um homem moralmente correto? Para evidenciar a paixão de Fortunato, Garcia deve ser o mais comum dos homens comuns? Ele precisa ser seduzido por Fortunato? Garcia certamente tem sensibilidade. Refletiu e voltou-se ao papel:

“— Mate-o logo! disse-lhe.”

Neste momento Fortunato está concentrado, não pensa em como tal cena pareceria ao amigo. Eles seriam íntimos a esse ponto? Sim seriam, precisam ser.

“— Já vai.

E com um sorriso único, reflexo de alma satisfeita, alguma coisa que traduzia a delícia íntima das sensações supremas, Fortunato cortou a terceira pata ao rato, e fez pela terceira vez o mesmo movimento até a chama. O miserável estorcia-se, guinchando, ensangüentado, chamuscado, e não acabava de morrer.”

Apesar de íntimos, Garcia não tem a coragem necessária para impedir que o amigo continue tal ato; não faz parte de seu caráter. Sua principal característica é a observação. Garcia gosta de observar as figuras humanas; tal cena horroriza-o, mas não pode deixar de observá-la.

“Garcia desviou os olhos, depois voltou-os novamente, e estendeu a mão para impedir que o suplício continuasse, mas não chegou a fazê-lo, porque o diabo do homem impunha medo, com toda aquela serenidade radiosa da fisionomia. Faltava cortar a última pata; Fortunato cortou-a muito devagar, acompanhando a tesoura com os olhos; a pata caiu, e ele ficou olhando para o rato meio cadáver. Ao descê-lo pela quarta vez, até a chama, deu ainda mais rapidez ao gesto, para salvar, se pudesse, alguns farrapos de vida.

Garcia, defronte, conseguia dominar a repugnância do espetáculo para fixar a cara do homem. Nem raiva, nem ódio; tão-somente um vasto prazer, quieto e profundo, como daria a outro a audição de uma bela sonata ou a vista de uma estátua divina, alguma coisa parecida com a pura sensação estética. Pareceu-lhe, e era verdade, que Fortunato havia-o inteiramente esquecido. Isto posto, não estaria fingindo, e devia ser aquilo mesmo. A chama ia morrendo, o rato podia ser que tivesse ainda um resíduo de vida, sombra de sombra; Fortunato aproveitou-o para cortar-lhe o focinho e pela última vez chegar a carne ao fogo. Afinal deixou cair o cadáver no prato, e arredou de si toda essa mistura de chamusco e sangue.”

Neste momento, Fortunato volta a si, ao homem social, à máscara que precisa manter, não por premeditação, mas por hábito. Se bem justificada, toda a violência é incólume. Mas Garcia percebe; é um bom observador.

“Ao levantar-se deu com Garcia e teve um sobressalto. Então, mostrou-se enraivecido contra o animal, que lhe comera o papel; mas a cólera evidentemente era fingida.

"Castiga sem raiva", pensou o Garcia, "pela necessidade de achar uma sensação
de prazer, que só a dor alheia lhe pode dar: é o segredo deste homem".”

E assim Garcia conhece a natureza deste homem, pensou. Mas o conto não pode terminar neste ponto. O que esta cena suscitaria em Garcia e nesta relação de amizade? Uma relação profissional pode existir afim de mantê-los em contato. Garcia pode ter algum outro interesse, talvez em alguma figura feminina ligada à Fortunato.

O sr. Machado de Assim então pensou no sr. Edgar Allan Poe. Pegou outra folha de papel e molhou a caneta no tinteiro. Já decidira o final do conto e optou por um início in media res:

“Garcia, em pé, mirava e estalava as unhas; Fortunato, na cadeira de balanço, olhava para o teto; Maria Luísa, perto da janela, concluía um trabalho de agulha. Havia já cinco minutos que nenhum deles dizia nada. Tinham falado do dia, que estivera excelente, — de Catumbi, onde morava o casal Fortunato, e de uma casa de saúde, que adiante se explicará. Como os três personagens aqui presentes estão agora mortos e enterrados, tempo é de contar a história sem rebuço...



Este conto faz parte da tentativa de responder este desafio.