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15 August 2015

evig: (2 - chá)
Eu tive uma ótima professora de português no ensino fundamental II, a Belkiss. Tenho uma relação de gratidão platônica com ela pois foi quem acendeu as primeiras chamas do meu amor ao registro escrito da nossa língua.

No médio, contrariando minhas expectativas, essa chama foi morrendo e eu fui me aproximando mais da literatura (a ruim, a boa, a de internet, etc; todas consumidas sem relação com a aula) e o português virou apenas um instrumento para essa nova forma de conhecimento e expressão que eu comecei a explorar com mais afinco. E foi a literatura que me levou para o curso de Letras.

No cursinho, a professora de gramática, a Donatela, me apresentou uma nova forma de ver a gramática, que antes era temível até pra mim. Fiquei maravilhada com ambiguidade de frases e ela dava uns exemplos sagazes a nível superior (hoje eu sei). E não era nada normativa. Mas no cursinho existe o tempo limitado e uma diversidade de futuros estudantes de outras áreas, então tive apenas um aperitivo das (novas para mim) funções morfossintáticas.

Pois bem, a faculdade: As primeiras aulas de Elementos de Linguística e de Estudos da Língua Portuguesa são traumáticos, no bom sentido. Elas arrancam do nosso cérebro formatado por educação formal normativa tudo que a gente achava que sabia. É assim até hoje para mim e eu amo desconstruir conceitos, axiomas. Estudar a fala, conversação, gírias e amar o que se diz erroneamente de "falar errado". O falante é competente e faz as construções mais interessantes que fazem todo o sentido conforme a estrutura da língua. LÍNGUA. É contraditório na escola chamarem de Língua Portuguesa estudo sobre norma culta no registro escrito; morfologia estudar classe de palavras (uma classificação bem estranha); sintaxe que poucos usam; coisas que servem pra coisas muito específicas, tipo, passar no concurso público, só. Vestibulares estão abolindo cada vez mais a gramática normativa e a bendita norma culta que os alunos deveriam aprender para os fins de registro, vira uma abominação com todas aquelas regras e exceções e "não pode isso", "não pode aquilo".

Estudar a estrutura do português é bem mais divertido do que é apresentado nas escolas. E eu digo isso sabendo apenas da pontinha desse iceberg de diversão inexplorada que me mostra que a cada vez que eu desconstruo e aprendo um pouquinho sobre ele, tem muito mais por baixo do que eu jamais imaginei.